Hemofilia B é tratada com terapia gênica


Após 20 anos de expectativa e tentativas fracassadas, a primeira experiência clínica bem sucedida com terapia gênica acaba de ser anunciada em pacientes com hemofilia B . Trata-se de  uma forma mais rara de hemofilia que afeta 1 em cada 30.000 indivíduos do sexo masculino. A pesquisa realizada por um grupo grande de pesquisadores do Reino Unido e Estados Unidos, envolvendo 6 pacientes,  foi publicada na mais importante revista médica internacional, New England Journal of Medicine. Sem dúvida, um passo muito importante.
Recordando
A hemofilia é uma doença caracterizada por uma deficiência de coagulação do sangue. Os sintomas incluem hemorragias nas articulações, dores intramusculares e sangramentos constantes. Qualquer machucado pode ter consequências graves. Na forma mais comum, a hemofilia A ( que corresponde a 80% dos casos), há a deficiência do fator de coagulação VIII, enquanto na forma B, que atinge 20% dos casos, o defeito está no fator de coagulação IX.  As duas formas são causadas por genes recessivos, que estão no cromossomo X e por isso, com raras exceções só o sexo masculino é afetado. Isso porque a mulher tem dois cromossomos X e se tiver uma mutação em um gene presente em um dos X, a cópia normal do gene no outro cromossomo X dá conta do recado, o que fará com que ela seja portadora, mas assintomática. Entretanto, a mulher portadora tem um risco de 50% de transmitir o cromossomo com o gene defeituoso para a sua descendência de sexo masculino que será clinicamente afetado.
Como é o tratamento atual?
O tratamento é feito com injeções frequentes, 2 a 3 vezes por semana de um concentrado de  fator IX,  uma proteína que é crítica para a coagulação do sangue. Entretanto esse tratamento que é extremamente caro é profilático e não representa uma cura. Por isso, a possibilidade de usar outras estratégias terapêuticas tais como a terapia gênica na busca de uma cura definitiva  tem sido objeto de muita investigação.
Como foi feita a pesquisa com terapia gênica?
Os cientistas inseriram uma cópia normal do gene da hemofilia B em um vírus especial, o adenovírus AAV8. Esse vírus tem a característica de direcionar-se para o fígado quando injetado, o que permitiu que ele fosse administrado na veia,  um procedimento simples e não invasivo. Os seis pacientes, com idades entre 27 e 64 anos foram divididos em 3 grupos que receberam respectivamente uma dose pequena, média e alta do vírus. Os pacientes foram seguidos entre 6 e 16 meses.
Quais foram os resultados?
Uma única injeção permitiu que os pacientes produzissem o fator IX em quantidade suficiente para que quatro dentre eles pudessem interromper o tratamento convencional, isto é, as injeções de concentrado de fator IX. Nos outros dois, os intervalos entre as  injeções puderam ser aumentados. Os melhores resultados foram observados nos pacientes que receberam a dose mais alta do vírus. O trabalho gerou grande entusiasmo e pode ser um marco  nos tão esperados tratamentos resultantes de terapia gênica. Além dos benefícios para os pacientes a redução de custo é astronômica. De acordo com a Dra. Katherine Ponder, uma especialista no assunto, o tratamento convencional com o concentrado custa 300.000 dólares por ano, podendo chegar a 20 milhões de dolares durante a vida enquanto uma injeção única do vírus custaria 30.000 dólares.
Apesar de alguns efeitos colaterais o experimento é promissor e pode significar um divisor de águas  em potenciais tratamentos envolvendo terapia gênica.  Mas serão necessárias  novas pesquisas clínicas para ajustar a dose ideal.  Além  disso antes de  considerar esse ensaio terapêutico um tratamento reconhecido para hemofilia será necessário repetir o experimento com um número maior de pacientes seguidos por mais tempo . Mas certamente, há motivos para otimismo.
Por Mayana Zatz


Fonte: Revista Veja

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