Novo método para reprogramar células-tronco


Está parecendo modelo de telefone celular. No momento que você adquire um, ele já está obsoleto. Já anunciam outro, mais moderno, com mais funções e com a promessa, é claro, de que vai ser mais eficiente. É o caso do trabalho que acaba de ser publicado por um grupo de pesquisadores americanos, dirigidos por Derrick Rossi: um novo método, mais eficiente, para reprogramar células-tronco adultas e torná-las semelhantes as células-tronco embrionárias (se você quiser ler o artigo no original, clique aqui).
A inovação é que, em lugar de utilizar vírus, esses pesquisadores usam um RNA sintético. Segundo eles, esse método, além de não oferecer riscos e ser mais eficiente, torna as células mais semelhantes às células-tronco embrionárias verdadeiras do que a metodologia que depende do uso de vírus.
CÉLULAS REPROGRAMADAS: AS CÉLULAS IPSRecordando, as células IPS (do inglês induced pluripotent stem-cells) foram descobertas em 2007 pelo pesquisador japonês Shynia Yamanaka. São células adultas reprogramadas que seriam potencialmente iguais às embrionárias. Falei delas recentemente . Para consegui-las é necessário induzir a célula adulta a expressar fatores que foram denominados fatores de Yamanaka ( KLF4, c-MYC, OCT4 e SOX2) e que são introduzidos na célula com vírus.
Um dos problemas dessa tecnologia é a baixa eficiência. Menos de 1% das células submetidas a essa tecnologia consegue ser reprogramada. Além disso, existe o risco associado à introdução do vírus dentro das células e por isso repetimos sempre que não sabemos se as células IPS poderiam algum dia ser usadas clinicamente para terapia celular.
QUAL É A NOVIDADE?O grupo coordenado pelo Dr. Rossi conseguiu células IPS usando RNA sintético, eliminando assim o risco associado ao uso de vírus. Batizaram essas células de RiPSCs (RNA-induced pluripotent stem-cells) .Trata-se de uma tecnologia complexa, mas eles mostraram que a eficiência (isto é a reprogramação de células adultas em células-tronco pluripotentes) era o dobro da observada pelo método viral. Além disso, as células RiPSCs mostraram-se mais semelhantes às células-tronco embrionárias verdadeiras (originadas de embriões) do que as iPS obtidas por  origem viral.
CÉLULAS RiPSCs se diferenciaram em células-muscularesO próximo passo foi verificar se essas células reprogramadas conseguiam se diferenciar em células específicas. Escolheram as musculares e novamente o experimento foi bem sucedido. Como já conseguimos diferenciar células musculares a partir de células-tronco adultas, não fiquei tão entusiasmada.
Resta saber se as células RiPSCs conseguem produzir neurônios – células nervosas – funcionais. Isso sim seria fantástico, porque teria um potencial terapêutico gigantesco para pessoas que precisam regenerar neurônios. Por outro lado, demonstrou-se recentemente que células IPS têm “memória” , isto é, “lembram-se” do tecido de onde foram retiradas e preferem se diferenciar nele. Precisamos descobrir se as novas RiPSCs também guardam ou não a memória de onde se originaram ou conseguem se diferenciar em qualquer tecido como as verdadeiras embrionárias.
AS PERSPECTIVAS SÃO ENORMESEssas pesquisas precisam ser replicadas por outros grupos, mas se confirmadas elas permitirão um salto gigantesco em terapias futuras visando a medicina regenerativa. Talvez em um futuro próximo não seja mais necessário usar células de embriões descartados, que sobram em clínicas de fertilização assistida, dando um fim a todas essas discussões éticas. Vamos torcer para que isso ocorra logo.
Por Mayana Zatz


Fonte: Veja

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